Polícia Federal investiga furto de mais provas do Enem
LAURA CAPRIGLIONE
AFONSO BENITES
da Folha de S.Paulo
O grupo que vazou o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) furtou ao menos dois exemplares da prova. Mas a Polícia Federal já investiga a possibilidade de outro conjunto de questões também ter sido subtraído antes da prova.
Veja o conteúdo da prova do Enem que vazou
Novo Enem terá apoio dos Correios e da Polícia Federal
Entenda o caso sobre o desvio das provas do Enem
Aumentou o número de suspeitos de envolvimento no vazamento, com a confissão de dois jovens contratados pelo Connasel (Consórcio Nacional de Avaliação e Seleção, responsável pela produção e aplicação da prova), que admitiram ontem ter retirado exemplares da prova de dentro da gráfica Plural, que imprimia os exames.
Até a conclusão desta edição, cinco pessoas já haviam sido indiciadas: Felipe Pradella (furto, violação de sigilo e extorsão); o dono de pizzaria Luciano Rodrigues e o DJ Gregory Camilo Craid (violação de sigilo, corrupção passiva e estelionato); "Felipe" e "Marcelo", os novos personagens (furto e violação de sigilo).
A polícia investiga agora a participação de uma mulher no furto de uma terceira prova.
Ontem, a PF interrogou Felipe Pradella, o "organizador de caixas" contratado pela Connasel, fotografado quando tentava vender, por R$ 500 mil, um exemplar da prova para jornalistas de "O Estado de S. Paulo", que noticiou o vazamento.
Pradella negou que tenha furtado a prova. Segundo sua advogada, ele confessou ter recebido a prova das mãos de um amigo que prestava serviços dentro da gráfica. Pradella admitiu que tentou vender a prova aos jornalistas.
Por indicação de Pradella, a polícia chegou ao nome de um dos rapazes que teria furtado o exame. Este, por sua vez, denunciou o terceiro nome, que também trabalhava dentro da gráfica. "Felipe" e "Marcelo" tornaram-se, assim, suspeitos de coautoria no crime de furto.
Na cueca
PUBLIFOLHA/PUBLIFOLHA |
Os dois jovens disseram que uma das provas foi retirada pelo próprio Felipe Pradella de uma caixa e, em seguida, escondida na roupa de um deles, que assim a retirou da gráfica.
O terceiro funcionário do Connasel envolvido no vazamento assumiu que escondeu uma prova dentro da cueca e saiu com ela da gráfica.
Ontem, esses dois novos personagens, vestidos com jeans e camiseta, se apresentaram na sede da PF de São Paulo.
A Plural foi contratada pelo Connasel para imprimir e fazer o acabamento de 9,4 milhões de provas (4,7 milhões por dia de exame). Os trabalhos de divisão das provas por escolas e salas de aula, de colocação de lacres, de logística de distribuição, de transporte e de segurança couberam a outras empresas, que foram contratadas pelo consórcio para o exercício dessas funções específicas.
DVD
A Plural entregou ontem à PF 136 cópias de DVDs com imagens captadas nos 36 dias que durou o trabalho na gráfica.
"Felipe" e "Marcelo", que haviam sido contratados pelo consórcio para fazer a separação e o ensacamento das provas, apontaram nas imagens o local e momento em que consumaram o furto. Já se sabe que uma das provas foi retirada da gráfica por volta das 3h do dia 21 de setembro. A outra prova foi desviada na madrugada do dia seguinte.
A advogada Claudete Pinheiro da Silva, defensora de Felipe Pradella, disse que a gráfica não era um ambiente seguro para impressão das provas do Enem.
"A polícia já viu a fragilidade dos serviços prestados. Segundo comentários de um delegado federal, esse lugar era uma festa", disse a advogada, após acompanhar o depoimento de seu cliente por sete horas.
Conforme Claudete, nenhum funcionário era revistado nem na entrada nem na saída da gráfica e as imagens dos DVDs que já estão com a polícia mostram que "muitas pessoas tinham acesso às provas".
Segundo o diretor-geral da Plural, Carlos Jacomine, a partir do dia 20, uma área foi reservada na gráfica a pedido do consórcio para que as provas fossem embaladas. Toda a administração desse espaço e o controle de acesso eram feitos por seguranças do Connasel.
Ainda de acordo com a advogada, o interesse de Pradella e do DJ Gregory era obter dinheiro com a venda de um "furo" jornalístico. Gregory pediu ao dono de pizzaria Luciano Rodrigues, de quem é amigo, para indicar jornalistas que se interessassem pela prova.
"Felipe Pradella não tinha noção de que vender esse tipo de matéria era um crime", declarou a advogada. "Se ele quisesse vender a prova, teria procurado os interessados nela, e não a imprensa", acrescentou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário